segunda-feira, 27 de junho de 2011

ABRINDO O PACOTE

Diário de bordo 27/06/2011.
Agora chegou o inverno, e, pela previsão do tempo, logo mais à noite parece que vai esfriar mesmo.
Desde março de 2011, momento em que eu fechei negócio com  Roberto Barros Yacht Design, até meados de abril quando o pacote chegou de Singapura eu ainda não havia encontrado motivação para abrir o mesmo e estudar o projeto do Multichine 23.
Hoje resolvi abrir.
Eu tenho percebido que você precisa apenas de um grande motivador para dar sentido à vida. O restante de todas as outras coisas, se alinham como que por encanto e se resolvem desde que apontem para o mesmo sentido deste grande motivador.
Então o segredo é descobrir o que te motiva, o resto é consequência.
No meu caso, infelizmente, não é qualquer coisa que me anima.
Quando aos 12 anos eu perdi meus pais e minha irmã num acidente em que eu também estava junto, talvez o fato de ter sido o único a sobreviver já deveria ter sido o bastante para enxergar sentido na vida.
Eu quis mais, desejava ser médico.
Se para as pessoas com família estruturada e financeiramente estável já seria bem difícil como é até hoje conseguir entrar numa faculdade de medicina, imaginem para mim, sozinho e sem recurso financeiro definido!
Meta definida, a certeza do que realmente eu queria bastou para superar todos os mais insuperáveis obstáculos e desafios, e olha que não foram poucos! E cá estou há 26 anos fazendo exatamente o que eu decidi fazer na vida.
A droga é que não basta você achar alguma coisa legal e sair em busca de fazer isso. É preciso sentir no fundo do seu ser que aquilo te pertence e que vale a pena debruçar sua vida para atingir tal objetivo.
Um grande detalhe: para se atingir alguma coisa realmente difícil é preciso determinar a essência, o núcleo sobre o qual se deve concentrar todo o seu esforço.
Quando eu queria a medicina, não ficava pensando em usar a roupa branca de médico, nem pensava nos hospitais e nas cirurgias nas quais eu certamente participaria, muito menos em como seria viver a vida de um médico. Isto tudo era irrelevante.
A única coisa na qual eu pensava era: passar no vestibular ao invés de tentar viver a medicina por antecipação. Ter a clareza de que a aprovação no vestibular era o divisor das águas em direção ao meu objetivo foi o que determinou exatamente o que eu deveria fazer, ou seja, qualquer coisa que fosse preciso fazer para passar no vestibular da medicina.
Portanto o objetivo não era ser médico, o objetivo era entrar na medicina. Para isso eu precisava estudar física, matemática, literatura, inglês, ortografia, etc e sentir um imenso prazer em tudo isso.
Algumas vezes não faz sentido ir para casa à noite e assistir televisão ou deitar na cama numa tarde de sábado e ficar inventando o que fazer para preencher o dia, ou trabalhar e pagar as contas no final do mês, e  então começar outro mês e pagar as contas novamente.
É preciso ter um desafio intransponível.
O mar é o desafio. Calmo, agitado, profundo e belíssimo.
Hoje quando abri o pacote do projeto do multichine 23 comecei a me perguntar qual seria a essência do projeto de velejar o mundo, qual seria o equivalente a passar no vestibular em oposição ao que seria o equivalente a vestir branco, frequentar hospital e fazer cirurgia.
Questionei também se o mar poderá ser tão imenso quanto tem sido a medicina em minha vida.
Ainda não tenho nenhuma destas respostas.
A única coisa da qual eu tenho certeza é que eu preciso urgentemente encontrar algo tão intenso quanto a medicina que possa representar um objetivo digno de se perseguido para dar sentido a minha vida.


Marcos Antonio

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